A Identidade da Igreja, Missão como obra de Deus

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Por Rodrigo de Aquino

Quero refletir essa temática a partir da seguinte pergunta: “Qual é a principal tarefa da igreja?” Fazer missões cumprindo o “ide” de Jesus pode ser a nossa primeira impressão. A resposta não deixa de estar correta, contudo, limita uma pergunta que deveria gerar uma reflexão mais profunda sobre esse tema. Esse conceito de que missão é mais um papel ou uma obrigação eclesiástica, inibe a igreja de viver a plenitude da sua identidade. Mas e o porquê disto? Paul Stevens afirma em seu livro “Os Outros Seis Dias”:

“Ironicamente, em sua constituição, a Igreja é um povo sem leigos no sentido usual dessa palavra, mas cheia de clérigos no verdadeiro sentido dessa palavra – dotado, comissionado e apontado por Deus para continuar o Seu serviço e missão no mundo. A Igreja não “tem”, então, um ministério; ela é um ministério, o ministério de Deus. Ela não tem uma missão; é uma missão. Há um povo, um povo trinitariano, um povo que reflete o Deus uno que é amante, amado e amor, como disse certa vez Agostinho, é um Deus que envia, é enviado e está enviando”.¹

A partir desse texto podemos entender que missão, não é mais uma função da igreja, mas é aquilo que define sua identidade enquanto instituição de Deus, ela é fruto da missão do próprio Criador. Onde Deus envia seu Filho, e este conjuntamente ao Pai, enviam o Espírito Santo. Portanto, missão e igreja não podem ser separadas, pois fazem parte da obra do próprio Deus em Cristo, que é atualizada pelo Espírito Santo. Igreja e missão são instrumentos pelo qual Deus promove a sua missão na terra. O corpo de Cristo, no sentido divino, enquanto igreja universal é vaso de Deus, ação da misericórdia do Senhor em direção ao perdido. Portanto, não cabe a igreja decidir se ela quer fazer missão, ela só pode decidir se quer ser igreja. Respondendo a nossa pergunta inicial, a principal tarefa da igreja, é descobrir sua identidade, que é ser uma igreja missionária (1Pe 2.9). A atividade missionária não é tanto uma ação da igreja, mas é simplesmente a igreja em ação.

A partir do momento que a igreja resiste à intenção do próprio Deus em fazer missão, ela deixa de ser corpo de Cristo, pois não há possibilidade de pertencer a Cristo sem participar em sua missão ao mundo. Quando a congregação dos santos nega sua identidade missionária, de alguma forma, tenta restringir o senhorio de Deus em seu serviço, na história da salvação da humanidade. ²Nisso percebemos que Deus não somente envia, mas é também enviado, e mais, é o conteúdo da missão. O apóstolo Paulo em 2Co 5.18-21 diz que Deus escolheu nos reconciliar consigo mesmo, mediante o evento do Calvário. Essa restauração de relacionamentos desperta no reconciliado, caso não negue sua identidade como igreja de Deus, a tarefa de representar essa graça que lhe alcançou no mundo em que vive. Somos embaixadores em nome de Cristo.

Concepção de missão a partir do homem.
Até agora apresentamos uma perspectiva de missão, onde Deus é o agente missionário por excelência. Todo esse esforço em enxergar a missão como obra de Deus, se dá pelo fato de que nossa concepção desse assunto está, na maioria das vezes, ligada ao esforço humano em cumprir o “ide” de Mc 16.15; Mt 28.19. A ênfase do labor missiológico fica amarrada então, ao deslocamento geográfico. Se levarmos em conta a análise do texto original grego dessas passagens bíblicas, não encontramos o imperativo “ide”, mas o gerúndio “indo”. Uma tradução mais literal de Mc 16.15 é: E disse a eles: Indo para o mundo inteiro proclamai o evangelho (...), o imperativo do versículo não é o ir, mas o proclamar. Com certeza o cristianismo não teria o alcance que teve, caso os apóstolos não tivessem se deslocado geograficamente, citando especialmente a figura do apóstolo missionário Paulo. Mesmo porque, a mensagem do evangelho não sairia da Palestina se eles não cumprissem a planilha geográfica de At 1.8. Anunciar em todo o mundo era necessário. E hoje, será que permanece desta mesma maneira? Ao atualizar o versículo do evangelho de Marcos, temos que levar em conta que o cristianismo já está difundido em boa parte do mundo, por isso, precisamos enfatizar o imperativo proclamai, e para proclamar, não precisamos necessariamente nos deslocar. Precisamos perceber essa realidade da missão, onde ser missionário não é somente sair pelo mundo anunciando a Cristo, mas ser simplesmente igreja, porque se sou igreja de Deus, sou missionário de Deus.

Temos que ter a seguinte clareza: Missão é obra de Deus. Todos quantos foram alcançados pelo evangelho de Cristo, são missionários. Ir pelo mundo a fora proclamar a Cristo é uma tarefa importante e necessária, mas não é o que me define como missionário. Vamos despertar para a concepção de que fazer missão é viver a partir de Cristo. Vamos orar a Deus pelos nossos irmãos, que estão em terras distantes testemunhando da graça de Cristo, porém, vamos também cumprir nosso papel de igreja proclamando a mensagem da cruz, em terras bem próximas.

¹ STEVENS, R. Paul; Os outros seis dias. Ultimato, 2005.
² VICEDOM, Georg; A missão como obra de Deus: introdução a uma teologia da missão. Sinodal, 1996.


Este artigo foi retirado do site GospelFree, com a devida autorização de seu autor Rodrigo de Aquino.

2 comentários:

Ivan disse...

Bah, vale a pena "perder" não mais do que 5 minutinhos e dar uma lida e refletir a respeito do tema...

Abraço pra ti Bibo!!!
Qdo passar por Pelotas, as portas aqui de casa ficaram abertas pra ti cara!!!!!
Deus te abençoe!!!

29 de fevereiro de 2008 às 14:55
Anonymous disse...

Valeu Ivan!!!
Abraços a toda essa turma que tem fome da palavra de Deus!!!

paz

3 de março de 2008 às 09:43

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